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Giovanna Matheus – O grande salto

13/06/2020

Fora da programação dos Jogos Pan-Americanos por quatro décadas, a ginástica de trampolim voltou em 2007. Logo na primeira edição após o retorno, uma jovem carioca brilhou em casa e colocou o Brasil no pódio

Giovanna Matheus – O grande salto

“Sua filha tem talento. Pense em levá-la a uma academia de ginástica”. Qualquer mãe ou pai coruja fica cheio de orgulho ao ouvir uma frase desse tipo. Pode ser que o rebento tenha feito apenas alguns rabiscos considerados promissores com giz de cera, não importa. Mãe que é mãe ou pai que é pai, se tiver condições financeiras e disponibilidade de tempo, vai dar um jeito de contribuir para que o tal talento desabroche. No caso da mãe de Giovanna Venetiglio Bastos Matheus, a frase calou ainda mais fundo. Afinal, foi proferida por ninguém menos do que Luisa Parente, cuja história contamos aqui, no primeiro texto da série “Memória de Ouro” CBG.

Giovanna estudava em tempo integral no Colégio Stella Maris, localizado na Estrada do Vidigal, no Rio, e fazia atividades no contraturno escolar. Uma delas era realizada no Centro de Iniciação Luisa Parente, a primeira escolinha da campeã dos Jogos Pan-Americanos de Havana (salto e barras assimétricas).

Indicada por Luisa, representante do Brasil nas Olimpíadas de 1988 e 92, Giovanna foi parar na academia de Tatiana Figueiredo, que defendera o País nos Jogos de 84. Foi parar é modo de dizer. A menina, com seus seis aninhos de idade, logo descobriu a cama elástica e começou a voar. “Eu me divertia muito. Era um pula-pula, né? Qual criança não gosta disso?”.

Tatiana, que havia sido excelente atleta da ginástica artística, tinha em sua academia alguns aparelhos dessa modalidade, mas direcionou seu foco para a ginástica de trampolim com o passar do tempo – ela é hoje Coordenadora da Seleção Brasileira.

“Lembro da Giovanna bem pequenininha na minha academia. Desde o início ela já mostrava muito talento, de fato. Tinha força explosiva, saltava alto, era bem flexível. Fazia os gestos técnicos com muita desenvoltura, ponta do pé muito bom”.

Com todas essas qualidades técnicas e físicas, e dispondo de excelente orientação, foi um pulinho para a garota passar a se destacar nas competições estaduais e nacionais. Aos 9 anos de idade, começou a faturar medalhas em sequência – figurava sempre entre as três primeiras nas disputas desse nível.

Aos 15 anos, Giovanna debutou no pódio de uma competição de altíssimo nível – ao lado de Bruna Garambone, foi campeã mundial no trampolim sincronizado, em Eindhoven, na Holanda, em 2005.

Mesmo dividindo seu tempo entre a escola e os treinos, Giovanna continuou evoluindo e conquistou vaga para os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 ao alcançar a quinta colocação no Pré-Pan de Monterey, no México, em 2006.

Em outra encarnação, as disputas de trampolim já haviam feito parte da programação de duas edições dos Jogos Pan-Americanos: a primeira das duas edições realizadas na Cidade do México, em 1955, e, quatro anos depois, em Chicago. Na época, o trampolim integrava o programa da ginástica artística. Houve disputa apenas no masculino. Na soma dos dois Pans, os norte-americanos paparam cinco medalhas; a outra coube a um venezuelano.

Giovanna não desfrutou das melhores condições de treino possíveis. A bem da verdade, ela só recebeu um trampolim moderno, do mesmo nível daqueles utilizados no Pan, a dois meses do evento. Com o equipamento, totalmente diferente daquele no qual realizava seus treinamentos, a evolução nos treinos foi bastante considerável – até mesmo a altura alcançada pelos saltos aumentou.

A oportunidade de disputar, aos 17 anos de idade, um evento da grandiosidade do Pan em sua cidade natal, com o apoio de muitos familiares e amigos, já era um sonho. Mas havia mais – a possibilidade de medalha, na avaliação de Tatiana, era real. Ela só procurava controlar a intensidade do estímulo embutida nesses planos para que Giovanna, ao menos no sentido figurado, não tirasse os pés do chão. “Se viesse a medalha, ainda mais na nossa casa, seria fantástico. Mas eu evitava falar muito sobre isso com ela, para que não criasse expectativas demais, que poderiam ser perigosas naquele momento”, recorda a treinadora.

Giovanna diz que, por características próprias, sempre foi o tipo de atleta que se envolve muito nas competições, ficando nervosa. E olhar para as instalações do Pavilhão 3 do Riocentro, avistando tantos semblantes conhecidos, era algo capaz de mexer até com o mais frio e experimentado competidor. “Era muita gente na arquibancada, além de um monte de jornalistas, televisão e tudo o mais. Não foi nada fácil”, diz a ginasta.

E como era a relação de forças naquela disputa? O Canadá chegou com um poder de fogo imenso. Uma de suas representantes era Karen Cockburn, então com 26 anos, campeã mundial em 2003 e com duas medalhas olímpicas no currículo (prata em Atenas-2004 e bronze em Sydney-2000). No ano seguinte, a fera seria vice-campeã olímpica novamente, em Pequim. A conterrânea de Cockburn, Rosannagh MacLennan, 18 anos à época, era um talento em ascensão. E bota talento nisso – anos depois, ela viria a se tornar bicampeã olímpica (2012-16).

Se a disputa com as canadenses era pra lá de indigesta, com as norte-americanas dava jogo. Ora Giovanna ganhava das ianques, ora perdia. Naquele ano, elas competiram juntas em etapas da Copa do Mundo na Bélgica e na Bulgária, com uma vitória verde-amarela e uma derrota.

Na fase classificatória do Pan, a brasileira domou os nervos e se saiu muito bem, classificando-se em terceiro lugar, atrás apenas da dupla de ases do Canadá. Essa performance foi decisiva. No dia da final, a carioca foi a antepenúltima a subir no aparelho. Ela já sabia exatamente o que precisava fazer para superar as norte-americanas.

“Eu modifiquei minha série. Se não modificasse, correria o risco de errar e de perder a medalha. Troquei um elemento complicado por um mais simples. Eu só precisava acertar e correr para o abraço”.

Giovanna executou a série sem erro e ficou aguardando seu nome aparecer no placar eletrônico com a nota. Se aparecesse em primeiro lugar, o bronze já seria seu – era quase certo que as canadenses, na sequência, voariam rumo ao ouro e à prata. E não deu outra: com a nota 34,30, o nome da brasileira pintou no placar como esperava.

“Eu já contava com aquilo, mas quando tive a confirmação, explodi e fui abraçar a Tatiana”, diz a medalhista pan-americana. É possível visualizar a cena no YouTube – não podemos confirmar, mas o abraço das duas deve ter sido um dos mais longos e apertados daquele Pan. “Sou muito grata à Tatiana, foi minha técnica a vida inteira”, reconhece.

Medalhista pan-americana aos 17, Giovanna alimentava fortes ambições de se tornar atleta olímpica aos 18. Mas um triste episódio ocorreu em sua carreira. A jovem atleta foi acometida por um problema psicológico à qual ela e sua treinadora se referem como “pane”.

“Eu tinha confusão de saltos. Na hora de fazer minha série, era como se eu esquecesse a sequência. Em vez de fazer um mortal, executava outro movimento e caía de mal jeito”.

A ginasta procurou ajuda de profissionais da psicologia, mas não obteve resultado. De tão sério, o problema a afastou do trampolim por três anos. “Em 2011, voltei com uma cabeça melhor. É uma questão muito psicológica, e eu comecei o treinamento do zero”.

Tatiana adotou todas as precauções para que Giovanna voltasse a se sentir segura. “Não foi exatamente o mesmo trabalho que se faz com uma iniciante. Mas ela começou a saltitar, fizemos muitos treinos educativos, e ela foi percebendo que poderia voltar”.

E Giovanna voltou. Naquele mesmo ano, a ginasta carioca mostrou o que realmente era capaz de fazer em duas etapas da Copa do Mundo. Na primeira, na China, já teve um resultado notável – ficou em nono lugar na fase de classificação, a um posto da final. Em Kawasaki, no Japão, ela acelerou rumo à sua maior glória. Com atuação praticamente impecável, conquistou o bronze – até hoje, é a única medalha que o Brasil tem em Copa do Mundo nessa modalidade. Um resultado muito comemorado, depois de tanto sofrimento.

“Ela entrou plena, muito confiante, solta. Os saltos foram todos no centro da tela. Foi uma série espetacular, memorável”, lembra Tatiana. “A Bryony Page não se conformou por ter ficado na quarta colocação, perdendo para uma brasileira. A Grã-Bretanha quase entrou com recurso. Eles analisaram de todas as formas, mas não viram como”, acrescenta a treinadora. Anos depois, em 2016, Page viria a se consagrar vice-campeã olímpica. Curiosamente, a inglesa sofreu de um bloqueio similar ao de Giovanna – LMS (Lost Move Sindromy). Essas panes não são incomuns na ginástica de trampolim, e ocorrem também na ginástica artística.

Em novembro de 2011, Giovanna não conseguiu classificação olímpica no Mundial de Birmingham – ficou com a 26ª colocação. Em janeiro do ano seguinte, no evento-teste de Londres, a brasileira obteve a 13ª posição, ficando assim fora do grupo das cinco ginastas que alcançaram vaga para os Jogos. Naquele mesmo ano, uma luxação exposta no tornozelo decretou o fim da carreira de Giovanna. “Foi muito difícil. Fui desanimando cada vez mais, até parar”.

Hoje, a gestora ambiental olha para trás e vê com muita satisfação seus feitos no esporte. “Meus anos de atleta foram sem dúvida os melhores da minha vida. O esporte me ensinou muito como pessoa, praticamente tudo o que me construiu veio da ginástica de trampolim”.

 Tatiana acredita que Giovanna abriu um caminho que será seguido pelas novas gerações. “Ela provou que é possível, que o Brasil pode conquistar grandes resultados na ginástica de trampolim”.

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