Finalista olímpica e maior nome da modalidade nos anos 80 e 90, a Princesinha do Pan de 91 inaugura a galeria de biografias dos grandes nomes da ginástica brasileira
Foto: Março de 95, Luisa Parente disputa sua última competição, o Pan de Mar del Plata - Crédito :Edu Garcia/Estadão Conteúdo
Os Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, em 1995, marcaram a despedida de Luisa Parente das assimétricas, do tablado, do cavalo: de todo o mundo de sua modalidade, em suma. Aos 22 anos de idade, a carioca que era “a” referência nacional em seu esporte não imaginava que a ginástica artística brasileira chegasse onde chegou, e em tão curto espaço de tempo. Recapitulemos: seis anos depois, em 2001, Daniele Hypolito conquistaria a medalha de prata no solo no Mundial de Gante, na Bélgica. De lá para cá, o Brasil alcançou outras conquistas impressionantes, com direito a medalha olímpica de ouro. “Por mais que desejasse, não passava pela minha cabeça que isso ocorreria tão cedo, nem que a ginástica masculina conseguisse o que conseguiu”, diz a hoje secretária nacional da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, aos 47 anos de idade.
Luisa conheceu a fundo a ginástica brasileira nos tempos em que as vacas eram esqueléticas. Quando começou a treinar no Flamengo, aos seis anos de idade, o tablado no qual fazia os exercícios de solo já era velho. Ele tinha vindo do ginásio do Ibirapuera, de São Paulo, que recebeu a etapa da Copa do Mundo de 1978.
“Havia muita dificuldade de importação de aparelhos, os preços eram muito altos. Acho que o Flamengo recebeu apenas parte das placas, as demais foram para outro clube. O tamanho não era o oficial (12m x 12m). O material estava muito desgastado. Lembro que colocavam tampinhas de refrigerante para evitar que as molas entrassem em contato direto com a madeira. Era tudo muito improvisado".
Na preparação para os Jogos de Seul-88, Luisa não treinava a série completa. “A parte de resistência do treino, para desenvolver a parte cardiorrespiratória, era realizada numa pista estreita, uma reta. Já as coreografias eram ensaiadas numa salinha de balé, de 6m x 6m”, recorda. “Foi só no mês que antecedeu os Jogos que pudemos treinar num ginásio apropriado, durante um estágio que realizamos na França”, acrescenta. Na Gávea, o salto era praticado num corredor entre a grade da quadra de basquete e a arquibancada.
Um aspecto positivo naquele ano, por incrível que pareça, foi a greve dos professores da rede pública do Rio, que se estendeu por três meses. Sem aulas, a ginasta, que cursava o colegial no Colégio Estadual André Maurois, pôde se dedicar aos treinos por oito horas diárias. “Depois da greve, o professor de Educação Física fez questão de aplicar uma prova teórica. Na época, acho que ele foi muito exigente, mas foi importante. Fui obrigada a entender muitas coisas, e acho que isso influenciou na decisão que tomei de cursar Educação Física”, diz a ex-ginasta, graduada pela Universidade Gama Filho – é bacharel em Direito também, pela Cândido Mendes.
Em matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 23 de setembro de 1988, Luisa sonhava com um aumento na ajuda de custo que recebia do Flamengo. O valor, Cz$ 9 mil, não era lá essas coisas. “Dava para comprar coisas como um protetor de mão, feito de couro, que usava para fazer as barras assimétricas. Nossa família era de classe média. Tinha três irmãos, e comprar iogurte ou queijo não era rotina. Assim eu usava aquele dinheirinho pra comer algo mais energético de vez em quando”.
A marcação cerrada da treinadora Georgette Vidor até contribuía para que os gastos de Luisa com alimentação não fossem dos mais elevados. Com 1,54m, a ginasta pesava 44kg. A disciplinadora técnica pegava no pé da pupila para que ela se livrasse de dois quilos. “Acho que podemos chegar a um acordo em 43kg”, disse a atleta, em Seul, no dia em que conquistou uma de suas maiores façanhas: a classificação para a final do individual geral.
Naquela jornada, Luisa alcançou o objetivo de ficar entre as 36 que disputariam a final no dia seguinte, ao obter a 34ª posição. No dia seguinte, sua classificação final foi a 35ª. “Podem hoje até achar que essa posição não era significativa, mas na época sei que se pagava um dobrado pela classificação. Era muito difícil a luta para mostrarmos que havia uma ginástica de qualidade no Brasil”.
Segundo Georgette, os árbitros poderiam ter dado 0,10 a mais em cada série executada por Luisa, caso ela não fosse brasileira, mas soviética, alemã oriental, búlgara ou romena, representantes de escolas com melhor retrospecto.
De qualquer forma, Luisa fez história ao chegar a uma final olímpica na modalidade. Antes dela, duas brasileiras alcançaram o feito. Mas Cláudia de Paula Magalhães Costa, 31ª em Moscou-80, e Tatiana Figueiredo, 27ª em Los Angeles-84, fizeram-no em edições dos Jogos marcadas por boicotes de blocos expressivos de nações.
O gostinho de ter o ouro pendurado no pescoço veio nos Jogos Pan-Americanos de Havana-91. No caso da ginástica, as disputas ocorreram em Santiago de Cuba. E lá foi Luisa escrever páginas inéditas na história do Brasil na ginástica: abiscoitou as duas primeiras medalhas de ouro da modalidade para o país nessa competição, ao se consagrar no salto e nas assimétricas.
“Tenho as melhores recordações desse Pan. O Brasil fazia intercâmbio com Cuba na ginástica e contávamos com a simpatia e o calor da torcida, o que muito nos ajudou. O clima no ginásio era excelente. Não posso dizer que fui a Rainha do Pan porque esse título cabe à Hortência, mas fui chamada de Princesinha”, disse a ginasta, que já havia conquistado o bronze nas assimétricas no Pan de 87, em Indianápolis, quando tinha apenas 14 anos de idade.
Em Barcelona-92, Luisa obteve a 57ª posição no individual geral – o melhor resultado dela foi no salto sobre o cavalo (29ª). Em 88, o pai de Luisa, Carlos Eduardo, temia que ela não repetisse a classificação olímpica. Seu receio era que o 1,54m de altura que a filha alcançara tornasse mais complicada a execução dos exercícios. Felizmente, Luisa soube se equilibrar.
Ao chegar à Olimpíada de Seul, Luisa honrou uma tradição familiar. O avô dela, Nélson Parente Ribeiro, fez parte da guarnição do quatro com timoneiro que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Berlim-1936. Em 72, levara a mãe de Luisa para ver a grande ginasta soviética Olga Korbut nos Jogos de Munique. A paixão da família da ginasta pelos Jogos era tão grande que chegaram a pensar em batizá-la como Olímpia. E não seria apropriado?
A Confederação Brasileira de Ginástica é patrocinada pela CAIXA.
Publicado pela Plataforma SGE da Bigmidia - Gestão Esportiva com Tecnologia
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